DO SABER COMUM A EPISTEMOLOGIA, DOS SIGNIFICADOS CONSTITUTIVOS DA DOCÊNCIA E DAS MARCAS DA PROFESSORALIDADE: ESPELHO DE SI MESMO

Autores

  • Francisco Renato Lima Universidade Federal do Piauí (UFPI)
  • Jovina da Silva Faculdade Santo Agostinho (FSA)

DOI:

https://doi.org/10.14571/brajets.v11.n2.346-359

Resumo

Partindo-se de uma inspiração nos modelos de fazer pesquisa que rompem com perspectivas lineares no campo das ciências humanas e sociais, este estudo objetiva apresentar uma análise da trajetória de constituição da docência e as marcas de professoralidade produzidas nas experiências de escola, tomando como objeto de análise o ‘espelho de si mesmo’ e, ao mesmo tempo, busca estabelecer uma relação entre a pesquisa autobiográfica e os processos de formação e construção da identidade docente. Para o desenvolvimento de tal proposta, enveredou-se pelos caminhos teórico-metodológicos da pesquisa autobiográfica, de caráter qualitativo e dialógico, de abordagem bakhtiniana (BAKHTIN, 2011), aliada aos subsídios teóricos propostos, principalmente, por Behrens (2013), Day (2001), Dominicé (1990), Freire (1996), Foucault (1996/2009), Nóvoa (2000/2001), Santos (2010), Passeggi (2011), Pereira (2001/2008/2013), entre outros, que iluminam a construção e escritura do texto, no qual se buscou encadear as ideias, no sentido de torná-las coerentes, apontando para a docência e a construção dos sentidos da professoralidade; e o sujeito e sua historicidade, como uma escrita de si contada em uma trajetória trilhada por caminhos que foram ‘do saber comum a epistemologia’ (FREIRE, 1996). Essa articulação teórica, aliada aos relatos em primeira pessoa assumidos pelo autor (perspectiva da autoria de Foucault), pode-se concluir que essa abordagem de pesquisa desafia o professor a ser um pesquisador de si mesmo e assumir a autoria de um discurso que carrega a dimensão social de sua prática no mundo. Esse sujeito, que se propõe a tomar como objeto de investigação a sua própria história de vida – uma ‘escrita de si’ – traz à tona em seu discurso, algumas pistas que possibilitam identificar como o ‘ser professor’ perpassa pela questão da subjetividade e do modo como cada sujeito, ao longo de sua trajetória de vida, ainda que despretensiosamente, se coloca a disposição de ensinar e de aprender de forma interativa e dialógica com o mundo.

Biografia do Autor

Francisco Renato Lima, Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Graduado em Pedagogia pela Faculdade Santo Agostinho (FSA/2012). Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica e Educação Especial (IESM). Especialista em Docência para o Ensino Superior (IESM). Com experiência profissional na rede privada e pública de ensino básico e superior. Suas pesquisas recentes concentram-se em Educação e Linguagem, com ênfase em temas como: Alfabetização, Letramento, Processos Cognitivos de Leitura e Escrita, Ensino e Aprendizagem da Língua Portuguesa, Dificuldades de Aprendizagem, Formação Docente e Tecnologias educacionais, multiletramentos e questões relativas à EaD. Atualmente é Mestrando em Letras – Estudos da Linguagem, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI).

Jovina da Silva, Faculdade Santo Agostinho (FSA)

Possui graduação em Filosofia pela Universidade Federal do Piauí (1980), em Pedagogia pela Faculdade Educacional da Lapa (2011) e em Direito pela Faculdade Santo Agostinho (2014). Especialista em Planejamento Educacional (UFPI / 1984); Especialista em Ensino (UFPI / 1986); Especialista em Administração Educacional (UECE / 1996); Especialista em Avaliação Institucional (UNB / 2002); Especialista Docência do Ensino Superior (FSA / 2007); Especialista em Educação a Distância (UNOPAR / 2015). Mestrado em Educação pela Universidade Federal do Piauí (2007). Atualmente é professora da Faculdade Santo Agostinho. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em: Formação de Professores, Didática e Ensino, Pesquisa em Educação, Avaliação da Aprendizagem, Ética e Cidadania, Currículo e Ensino Superior.

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Publicado

2018-08-01

Edição

Seção

Artigo