DO SABER COMUM A EPISTEMOLOGIA, DOS SIGNIFICADOS CONSTITUTIVOS DA DOCÊNCIA E DAS MARCAS DA PROFESSORALIDADE: ESPELHO DE SI MESMO
DOI:
https://doi.org/10.14571/brajets.v11.n2.346-359Resumo
Partindo-se de uma inspiração nos modelos de fazer pesquisa que rompem com perspectivas lineares no campo das ciências humanas e sociais, este estudo objetiva apresentar uma análise da trajetória de constituição da docência e as marcas de professoralidade produzidas nas experiências de escola, tomando como objeto de análise o ‘espelho de si mesmo’ e, ao mesmo tempo, busca estabelecer uma relação entre a pesquisa autobiográfica e os processos de formação e construção da identidade docente. Para o desenvolvimento de tal proposta, enveredou-se pelos caminhos teórico-metodológicos da pesquisa autobiográfica, de caráter qualitativo e dialógico, de abordagem bakhtiniana (BAKHTIN, 2011), aliada aos subsÃdios teóricos propostos, principalmente, por Behrens (2013), Day (2001), Dominicé (1990), Freire (1996), Foucault (1996/2009), Nóvoa (2000/2001), Santos (2010), Passeggi (2011), Pereira (2001/2008/2013), entre outros, que iluminam a construção e escritura do texto, no qual se buscou encadear as ideias, no sentido de torná-las coerentes, apontando para a docência e a construção dos sentidos da professoralidade; e o sujeito e sua historicidade, como uma escrita de si contada em uma trajetória trilhada por caminhos que foram ‘do saber comum a epistemologia’ (FREIRE, 1996). Essa articulação teórica, aliada aos relatos em primeira pessoa assumidos pelo autor (perspectiva da autoria de Foucault), pode-se concluir que essa abordagem de pesquisa desafia o professor a ser um pesquisador de si mesmo e assumir a autoria de um discurso que carrega a dimensão social de sua prática no mundo. Esse sujeito, que se propõe a tomar como objeto de investigação a sua própria história de vida – uma ‘escrita de si’ – traz à tona em seu discurso, algumas pistas que possibilitam identificar como o ‘ser professor’ perpassa pela questão da subjetividade e do modo como cada sujeito, ao longo de sua trajetória de vida, ainda que despretensiosamente, se coloca a disposição de ensinar e de aprender de forma interativa e dialógica com o mundo.Referências
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